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Homens bons não deveriam morrer

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Eu já disse isso e, certamente, outros mais talentosos também já disseram de forma mais criativa. Eu apenas alargaria o conceito, para que dúvidas não pairem quanto ao fato de eu estar me referindo à espécie e não ao gênero, que pessoas generosas não deveriam morrer. Diz-se que um ser humano viverá enquanto suas obras e suas ideias forem lembradas. O problema é que, na maioria das vezes, com o passar do tempo, que cada vez parece mais acelerado, essa memória vai se estiolando até fenecer.

Estava pensando nisso a propósito do falecimento recente de duas pessoas absolutamente generosas, gentis e que contribuíram enormemente com a cena cultural de nossa cidade e de nosso Estado. Pessoas com as quais convivi de forma mais ou menos intensa em períodos diferentes de minha vida e com as quais aprendi inesquecíveis e generosas lições de fraternidade e de disponibilidade para com o outro.

Falo de Mário Eleú Mazzine Silva e de Clenio Faccin, já homenageados de formas diversas em razão da passagem de ambos para o dito plano superior.

Com Clenio, tive intensa convivência na Banda do Maneco (pertencíamos a um grupo, liderado por ele, que pretendia uma banda inspirada na Banda Marcial do Colégio Dores da capital, comandada por seu Mór Jorge Alberto Pimentel, que, a convite do Clenio, veio a Santa Maria para nos transmitir sua experiência à frente da banda porto-alegrense. A propósito, Pimentel foi homenageado com o dobrado J.A.P. , cuja melodia, se minha memória não me trai, é de autoria de Armando K.de Paula, o Armandinho, extraordinário pistonista (assim, na época, chamávamos os trompetistas), já falecido, e que, anos antes, havíamos levado para o Manoel Ribas, tirando-o de nossa maior adversária, a Banda Marcial Irmão Leão, do Colégio Marista Santa Maria.

Lembro-me, com impressionante nitidez do sábado à tarde, em que vencidos na disputa pela questão da banda, Clenio me disse em sua casa, na Rua Duque de Caxias, quase esquina com a Bozano, "vou me dedicar integralmente a um projeto de teatro" e, aí, ele falava do TUI (Teatro Universitário Independente), que nascia. Convidou-me a segui-lo. Por razões, que nem me lembro bem quais eram, não o segui. Quando me arrependi disso, já era tarde. Mas sempre o acompanhei tão de perto quanto possível.

Já Mário Eleú, a quem eu conhecia de nome em razão de seu enorme talento poético-musical, tive oportunidade de encontrá-lo bem mais tarde, quando de sua trans-ferência para Santa Maria, como médico do INSS. E foi com alegria que o convidei para integrar a extinta Associação Santa-Mariense de Letras, da qual, à época, eu era presidente. De todos os magníficos traços de caráter do Mário - homem educado, generoso, bem-humorado, simples, afável - o que mais me encantou foi sua extraordinária humildade. Guardarei com enorme carinho os CDs e livros com quais me presenteou, inclusive "Velho Doutor" lançado em nossa última Feira do Livro, que recebi, no final de novembro passado, com afetuosa dedicatória.

Que a memória de ambos, pelas trajetórias construídas, pelas obras e pelas vitoriosas incursões pelo mundo da arte, permaneça viva a nos inspirar por muito tempo.

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